Daniel Lima
Para mim,
uma das características mais curiosas da pandemia tem sido o reconectar com
amigos antigos. Ao investir tempo com amigos, dos quais me distanciei por
vários motivos, uma verdade tem se revelado inegável: sem um investimento
intencional e cuidadoso, todo relacionamento esfria e pode até morrer. Isso é
verdade com amigos, com o cônjuge, com filhos, ou seja, mesmo com pessoas que
amamos. Ao pensar nisso, um segundo e poderoso pensamento me ocorreu: se isso
acontece com pessoas que vejo, quanto mais com Deus, que não vejo...
Conversando
com muitos cristãos, me parece que um efeito da pandemia é um esfriamento
espiritual (Pandemia e Esfriamento Espiritual). Parece que programas e
eventos de igrejas mantinham a vida espiritual (ou aparência) de muitos.
Percebendo isso, vejo igrejas tentando reproduzir virtualmente os mesmos
eventos e programas para manter seus fiéis conectados com a igreja e, em última
análise, com Deus. Fui pastor por cerca de 30 anos e entendo plenamente essa
preocupação. No entanto, não é curioso que tenhamos de manter programas para
que pessoas não se afastem de Deus? Esses programas, por mais bem-intencionados
que sejam, não estariam ocupando o papel de “muletas” espirituais? Um dos
benefícios da pandemia é que as “muletas” foram retiradas. Cristãos agora têm
de se alimentar e manter vivo seu relacionamento com Deus sem os eventos e
programas, ou pelo menos sem participar presencialmente dos mesmos. Como manter
uma vida espiritual saudável nessas condições? Como não escorregar para o
esfriamento espiritual?
Manter
nossa fé viva é algo que nos cabe, não a nossos pastores e líderes, muito
embora estes possam nos ajudar.
Um dos
textos aos quais fui levado são as cartas de Paulo a Timóteo. O teor da
primeira carta foi de encorajamento. Paulo se preocupou em animar Timóteo
alertando para os perigos e para suas responsabilidades. Aparentemente Timóteo
ainda precisava de encorajamento alguns anos depois, por isso a segunda carta.
É curioso que Paulo estava preso em condições terríveis e ainda assim escreve
uma carta de encorajamento para este jovem líder. Gostaria de compartilhar contigo
neste texto sobre algumas lições que tiro do primeiro capítulo desta segunda
carta:
Paulo
escreve no verso 5 que se lembra da fé não fingida que viu tanto na avó como na
mãe de Timóteo, assim como também nele. Era evidente que o desânimo de Timóteo
não era devido a uma fé falsa... Os versos 6-7 apresentam o propósito de Paulo
para este trecho da carta: Por essa
razão, torno a lembrá-lo de que mantenha viva a chama do dom de Deus que está
em você mediante a imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu espírito de
covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio.
Paulo
desafia Timóteo para que ele mantenha viva a chama do dom de Deus. Essa é uma
responsabilidade sua e minha. Manter nossa fé viva é algo que nos cabe, não a
nossos pastores e líderes, muito embora estes possam nos ajudar. E Paulo
fundamenta essa tarefa nos recursos que Deus nos deu: “espírito... de poder, de
amor e de equilíbrio”. Quando eu cedo à covardia, ao desânimo, estou fazendo o
trabalho do Diabo. É certo que passaremos por períodos de desânimo e
esfriamento, mas não por termos sido abandonados por Deus. Como então posso
acessar esse poder em momentos que não percebo, esse amor nas horas em que não
sinto e esse equilíbrio que gostaria de ter sempre? Com certeza existem muitas
instruções nos versos seguintes, mas eu gostaria de destacar cinco delas:
1. SUPORTE OS SOFRIMENTOS PELO EVANGELHO. Paulo
deixa claro que quem quiser viver uma vida piedosa sofrerá perseguição (2Timóteo 3.12).
Por que, então, ficamos surpresos quando enfrentamos sofrimentos neste mundo?
Arrisco-me a dizer que você e eu sofremos, em parte, por adotarmos expectativas
deste mundo, tais como sucesso, dinheiro, conforto, poder ou influência. Jesus
já deixou claro que seus seguidores enfrentariam lutas (João 16.33).
2. LEMBRE-SE DE QUE FOMOS CHAMADOS PARA ESTAR COM ELE
DESDE A ETERNIDADE PASSADA. O primeiro chamado de Jesus é
para estarmos com ele, só depois somos chamados a fazer algo por ele. Isso
deveria me levar a cultivar minha relação com o Pai. Buscar a Deus, buscar
ouvir o que ele está dizendo, me aquietar diante dele.
3. CONFIE QUE ELE PODE GUARDAR O QUE LHE ENTREGAMOS
ATÉ O FINAL. O que foi que você e eu
entregamos a Jesus no momento de nossa conversão? Se entregamos apenas nosso
destino eterno, somos salvos, mas nosso dia a dia será muito difícil; no
entanto, se entreguei a ele toda a minha vida, posso confiar que ele pode
guardar cada aspecto dela, mesmo aquele que não entendo ou que não gosto.
4. MANTENHA O ENSINO QUE RECEBEU. Há um
ditado antigo que diz: “Não duvide no escuro daquilo que Deus lhe mostrou no
claro!”. Momentos de pandemia, de isolamento e mesmo de esfriamento são
momentos de se agarrar ao que aprendemos e cremos. Nossa fé é mais testada e
forte em períodos de provação do que em momentos de tranquilidade!
5. CERQUE-SE DE IRMÃOS QUE PODEM TE ESTIMULAR. Paulo
conclui lembrando aqueles que o abandonaram e aqueles que o apoiaram. Não se
isole nos momentos de desânimo (como é minha tendência); pelo contrário,
agarre-se a pessoas que o apoiam e o sustentam. Busque aqueles que também
buscam a Deus, aqueles em cujas vidas você vê evidências de um caminhar com
ele.
Minha
oração por você, meu amigo ou amiga, e por mim é que, nos momentos de dúvida,
de desânimo, nos momentos em que parece que Deus desistiu de nós, possamos
combater o bom combate mantendo-nos firmes naquilo que cremos. Ao passar pelo
vale da sombra da morte, que a presença do Bom Pastor nos dê plena confiança –
apesar das circunstâncias! Extraído de www.chamada.com.br
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