Norbert Lieth
Há algum tempo foi
inaugurada uma Escola de Profetas em Tel Aviv, Israel. No meio cristão é
recorrente a menção a “falsos profetas”. Mas será que hoje ainda existe o
ministério de profeta?
No Novo
Testamento, um texto-chave sobre o ministério profético é o de 1 Coríntios 13.8:“O
amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas,
cessarão; havendo ciência, passará”. Essa é uma
declaração básica sobre o futuro, esclarecendo se haveria ou não profecias,
línguas ou ciência (aumento do conhecimento bíblico).
A Bíblia explica,
portanto, que essas coisas certamente cessarão. A questão é: quando elas
cessarão? Chegaremos mais perto da resposta se continuarmos lendo os versículos
9-10: “porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Quando, porém,
vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado”. O
que fora designado como passageiro, as profecias, as línguas e a ciência,
cessaria com a chegada do que“é perfeito”. Poderíamos pensar que “o
que é perfeito” seria a vinda de Jesus e o início do Seu reinado na
terra. Mas o versículo 13 mostra que não é isso:
“Agora,
pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três (não
profecias, línguas e ciência, que claramente já deixaram de existir); porém
o maior destes é o amor” (1 Co 13.13).
Se “o que
é perfeito” fosse a volta de Cristo e Seu reino, isso significaria que
a fé e a esperança permaneceriam, ao lado do amor. É evidente que o amor
permanecerá por toda a eternidade. E como ficam a fé e a esperança? Ambas
tornam-se desnecessárias quando o reino de Deus se tornar uma realidade
visível. Quando estivermos vendo Aquele que fora objeto de nossa fé no passado,
não precisaremos mais crer. Em outras passagens, a Bíblia nos ensina que
passaremos do crer para o ver, do abstrato para o concreto:
– 2 Coríntios 5.7:
hoje vivemos por fé e não pelo que vemos.
– Hebreus 11.1: a
fé está relacionada com coisas que não vemos.
– Romanos 8.24:
esperança que se vê não é esperança.
Portanto, um dia
passaremos do crer para o ver, da fé e da esperança para ver a Cristo – quando
Ele voltar. E quando estivermos vendo a Jesus e participando do Seu reino, a fé
e a esperança não serão mais necessárias. Mas o amor permanecerá. Portanto, “o
que é perfeito” não pode ser a volta de Cristo e Seu reino eterno.
Então, o que poderia significar o versículo 13 de 1 Coríntios 13?
Na minha opinião,
ele refere-se à conclusão do cânon bíblico, que se deu por volta do ano 100
d.C. com a redação do livro do Apocalipse. Quando foi escrita a carta aos
Coríntios, a revelação neotestamentária ainda não estava completa; a revelação
divina também não estava concluída. Por isso ainda havia profecias por meio de
profetas, assim como o dom de línguas com interpretação. Em conseqüência houve
um aumento no conhecimento (ciência), justamente porque nem tudo estava
revelado. Com a conclusão da Bíblia, essas coisas cessaram, e se mantiveram a
fé, a esperança e o amor.
Diante dessa
problemática, certamente não é por acaso que a Bíblia termina com as palavras: “Eu,
a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se
alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos
escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro
desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da
vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro” (Ap
22.18-19).
Nada deve ser
acrescido à Bíblia, nada deve ser tirado. A revelação divina está completa e
acabada. Obrigatoriamente não poderá mais haver profecias, pois se esse
ministério continuasse depois do registro bíblico, as profecias teriam de ser
inspiradas diretamente por Deus (2 Pe 1.20-21) e acrescidas à Bíblia como
revelações complementares. Da mesma forma, nada deve ser retirado da Bíblia,
como costuma fazer o liberalismo teológico.
Na época da
primeira geração da Igreja obviamente ainda havia profetas, entre
eles Paulo, Barnabé, Judas, Silas, Ágabo e outros (At 13.1; At 15.32; At
21.10), assim como houve apóstolos até a finalização do texto
bíblico (1 Co 12.28; Ef 4.11). Assim como hoje, depois de concluído o cânon do
Novo Testamento, não existem mais apóstolos, também deixaram de existir os
profetas. Se não fosse assim, poderíamos concluir inversamente que ainda
deveria haver apóstolos, o que é impossível conforme Hebreus 2.4, que usa o
verbo no tempo passado. Os apóstolos e profetas foram chamados “apenas” para
lançar a base e o fundamento, para estabelecer a Igreja (Ef 2.19-22).
Mas o que continua
com toda a certeza, mesmo depois da conclusão da revelação divina e até a volta
de Jesus, é o ministério de evangelistas, pastores e mestres (Ef 4.11-12). Seu
serviço continua edificando a Igreja de Jesus depois que o fundamento foi
colocado pelos profetas e apóstolos de uma vez por todas.
Nesse aspecto é
interessante observar que o apóstolo Pedro fala (em 2 Pedro 2.1) de falsos
profetas no tempo passado, mas em relação ao futuro ele menciona apenas falsos
mestres e não falsos profetas. Como apóstolo, ele sabia que no futuro não
haveria mais profetas; portanto não haveria falsos profetas, mas haveria, sim,
falsos mestres: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim
também haverá entre
vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias
destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou,
trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (2 Pe 2.1).
Depois da era da
Igreja, no tempo da Tribulação, haverá novamente profetas verdadeiros: as Duas
Testemunhas do Apocalipse (Ap 11.10). E então haverá mais uma vez um “falso
profeta” imitando esse ministério (Ap 19.20). (Norbert Lieth — Chamada.com.br)
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