Não estou descrevendo um show de algum músico
famoso, mas sim o culto de muitas igrejas contemporâneas. Preciso dizer de
partida que não sou contra todo esse aparato. Creio que igrejas devem investir
em seus momentos de culto com tudo que a tecnologia (e seus orçamentos)
permite. Não há desculpas para fazer um culto desleixado e afirmar ao mesmo
tempo que isso é mais espiritual. Evidentemente, o culto deve representar tanto
a comunidade da igreja como o tipo de pessoa que pretendem alcançar.
Eu já participei de cultos de mais de três horas de
duração, sentado em tábuas apoiadas em tocos de madeira, com apresentações
musicais de aparente devoção, mas de péssima qualidade musical. Ainda assim, o
povo presente estava evidentemente louvando a Deus e sendo conduzido à sua
presença, tanto pelas músicas como pela pregação da Palavra. Esse tipo de
culto, no entanto, não tem lugar no ambiente urbano, moderno e sofisticado de
nossas cidades.
Qual o problema então com cultos mais produzidos?
Certamente não é o investimento feito, ou a qualidade em que cada aspecto é
preparado. O princípio da excelência afirma que devemos fazer o melhor que
pudermos mediante os recursos que temos para oferecer a Deus uma adoração que
honre seu nome. Ao mesmo tempo (me perdoem os puristas) nossos cultos devem
também envolver os participantes, deve ter uma estética que mova o co
ração dos
membros e dos visitantes. Muito embora o culto seja oferecido a Deus e não aos
participantes, usar isso como desculpa para desleixo ou falto de investimento e
preparo é apenas uma desculpa para mediocridade.
O perigo, muitas vezes é quando a excelência é
desvirtuada em exibicionismo, uma postura arrogante que prioriza a performance
sobre a essência. Muito embora, em minha opinião, devamos oferecer a Deus o que
temos de melhor em todos os sentidos, o que Deus realmente deseja é uma
adoração que venha de um coração rendido a ele. Talvez uma das passagens que
melhor expressam isso é Salmos 51.16-17:
Pois não te agradas de sacrifícios; do contrário,
eu os ofereceria; e não tens prazer em holocaustos. Sacrifício agradável a Deus
é o espírito quebrantado; coração quebrantado e contrito, não o desprezarás, ó
Deus.
Em Israel, sacríficos e holocaustos eram a coluna
dorsal da adoração. Em algumas ocasiões festivas, o próprio Davi ofertou
milhares de animais para o sacrifício (1Crônicas 29.21). Nesse salmo, ao
enfrentar seu pecado de adultério e assassinato, o rei poeta deixa claro que
não são os atos, mas o coração que é o cerne da adoração. Pode-se dizer que um
coração quebrantado e contrito é a essência da adoração. Essência tem de se
manifestar em alguma forma. Essência sem forma não existe. Sendo assim, um
coração de quebrantamento e gratidão tem de assumir uma forma. O problema é
quando a forma exclui a essência, pois, diferentemente da essência, forma sem
essência existe e é tragicamente comum no campo da religiosidade.
A excelência na forma se torna problemática quando,
mesmo que não intencionalmente, começa a sufocar ou excluir a essência. Quando
a busca de excelência em um culto faz com que manifestações carnais, arrogantes
ou “performáticas” se tornem o centro desse momento. Esse é o instante em que o
exibicionismo surge.
Minha oração é que, nesse novo ano, igrejas fiéis
se esmerem em preparar e promover eventos que manifestem toda a criatividade, a
majestade e a perfeição da qual somos capazes. Quando preparamos um culto ou
qualquer outro evento com excelência estamos adorando a Deus tanto no evento
como na forma como o preparamos. Ao mesmo tempo, que nossos corações estejam
bem centrados no fato de que ele é a fonte e a razão de tudo que fazemos. Que
nossos corações evitem “roubar” os louvores com a qualidade de nossas
apresentações!
Por Daniel Lima – Extraído de: www.chamada.com.br