O ensinamento que
afirma que todos os homens serão salvos pela misericórdia de Deus se chama
“universalismo”. De modo crescente, o universalismo se insinua por declarações
da Igreja Católica Romana, bem como alguns grupos e igrejas protestantes de
linha mais liberal. Esta doutrina se mantém e se propaga pela força de dois
tipos de argumentação. O primeiro, sendo teológico, apela para a razão e
emoções humanas, enquanto o segundo se fundamenta em interpretações duvidosas de
alguns trechos da Bíblia.
O nacionalismo
judaico que dominava na época de Jesus abriu uma brecha extremamente estreita
para prosélitos que renunciavam suas origens gentílicas e ingressavam dentro do
povo de Deus por meio de batismo, circuncisão, sacrifício e compromisso com a
Lei. Assim alcançariam o supremo benefício de ingressar no povo de Deus chamado
Israel, mas não a garantia da salvação.
Os profetas do
Antigo Testamento previam um tempo futuro em que o Messias viria, não apenas
para trazer a salvação ao povo escolhido (Is 42.6; 49.6), mas também aos
gentios. Não seria justamente a bênção que Deus deu a Abraão que se estenderia
a todas as nações da terra por meio do seu descendente (Gn 12.3; Gl 3.16)? A
Nova Aliança efetuada pela pessoa e obra de Jesus na cruz criou uma “raça
eleita, sacerdócio real, nação santa e povo de propriedade exclusiva de Deus”,
composta de judeus e gentios convertidos (1 Pe 2.9).
De acordo com o
Novo Testamento, a salvação de qualquer pessoa, judeu ou gentio, dependia da
confissão que Jesus é Senhor (normalmente no batismo que marcava a morte e
ressurreição com Cristo) e crer na ressurreição de Jesus (Rm 10.9). Todos que
se arrependiam e criam eram incluídos nos salvos. A Grande Comissão que Jesus
deu aos seus seguidores foi de fazer discípulos de todas as nações, batizando e
ensinando-os a obedecer tudo que Jesus ensinou (Mt 28.19,20). Desta maneira, o
universalismo dos profetas, no qual as nações subiriam ao monte do Senhor (Is
2.3), se cumpria no convite do Evangelho universal a todos que foram comprados
para Deus pelo sangue de Jesus, os que procedem de toda tribo, língua e nação
(Ap 5.9).
A doutrina
ortodoxa enraizada no Novo Testamento que oferece a garantia da salvação a
todos que se arrependem e crêem no Senhor Jesus não é o universalismo que
ensina que todos os seres humanos serão aceitos por Deus e gozarão do benefício
da morte de Jesus. O universalismo neste sentido foi condenado no Concílio de
Constantinopla como uma heresia em 543 d.C. Reapareceu entre os mais extremados
anabatistas, alguns Morávios e outros poucos grupos não ortodoxos.
Schleiermacher, conhecido pai do liberalismo, abraçou esta posição, seguido por
teólogos mais radicais como John A.T. Robinson, Paul Tillich, Rudolph Bultmann.
Até o mais destacado teólogo do século 20, Karl Barth, não se posicionou contra
esta esperança, mesmo sem se declarar abertamente a seu favor. Os
evangélicos, porém, se opõem contundentemente a essa doutrina. Eles reconhecem
no universalismo uma forma moderna da mentira de Satanás no jardim:
“Certamente, não morrerás”.
O dualismo que
divide toda a humanidade aparece em todo o Novo Testamento. O juiz tem sua pá
na mão, limpará completamente a sua eira; “recolherá o seu trigo no celeiro,
mas queimará a palha em fogo inextinguível” (Mt 3.11,12). Sem nascer de
novo não há esperança de ver o Reino de Deus. Achar que o amor de Deus é tão
extenso que ninguém pode cair fora dele, é uma crença muito conveniente para os
que rejeitam o teor de todo o ensino da Bíblia. Não convém se arriscar em tão
fraca esperança.
Russell Shedd é
PhD em Teologia do Novo Testamento e doutor em Divindade.
Extraído do
site revistaenfoque.com.br em 02/01/2014
ALERTA: Alguns pastores que são defensores: Ed René Kivitz e Riaardo Gondim